Cidade, memória e identidade
21 de março de 2009
Por Telmo Padilha Cesa
*Ninguém, em lugar nenhum, em tempo nenhum, vai amar, valorizar, proteger, preservar, resgatar e cuidar aquilo que não conhece. O conhecimento é gerador de valoração e valoração é apropriação. Ao levar estas premissas para a área do patrimônio cultural de um povo é necessário abordar o tema de forma multidisciplinar.Não é preciso ser expertise em antropologia, história, sociologia e outras ciências humanas. Basta olhar o banco da praça da sua cidade, as suas calçadas (que na verdade são os tapetes da frente dos lares), ver a rua e onde está o lixo, o comportamento de motoristas e pedestres, o papa-entulho e sua localização e a degradação, pichação e abandono dos monumentos públicos e de edificações reconhecidas como históricas. É preciso também enxergar o cuidado e o trato que as pessoas dão à jardinagem das praças onde crianças brincam para entender o que é apropriação.Certamente, a qualidade daquilo que se vê nas pequenas cidades recém-emancipadas é o inverso daquilo que se vê nas médias e grandes aglomerações urbanas. Lógico, naquelas se lutou em grupo, unido pela independência e autogestão. Nestas, se herdou diferentes interesses, desencontros, desunião, descaminhos e desgovernos. São heranças que geraram um inventário de comportamentos altamente nocivos.Este processo, depois de iniciado por um só mau exemplo impune, leva a uma contaminação endêmica, instantânea, violenta e irreversível em curto prazo. A erradicação desta contaminação é lenta, exige paciência e pode durar gerações ou se tornar crônica e absorvida como cultural. No entanto, o melhor e mais eficiente remédio é a utilização do dito popular: a palavra convence, o exemplo arrasta. Podemos usar aqui o exemplo do principal gestor do município com relação às diárias de sua viagem a Brasília. Devolveu o valor integral! Exemplo que calou, e calou fundo.Pergunto: se você pudesse ter na mão uma fotografia do seu bisavô ao lado de sua bisavó que está com o seu avô no colo, rasgaria e jogaria no lixo ou guardaria como uma lembrança carinhosa de quem talvez você nem tivesse convivido, mas sabe que são imagens de pessoas que fazem parte da sua própria existência? Se a resposta for “guardaria”, onde seria? Numa caixa de sapatos no fundo de um baú ou num canto do seu roupeiro? Exposto, com destaque, em moldura de época pendurada numa parede bem à vista? A resposta depende do valor que cada um dá aos que lhe antecederam.Agora podemos entrar na história. Estamos vivendo o ano em que se completa o bicentenário da primeira divisão política e administrativa do Rio Grande do Sul, quando aconteceu, mais precisamente em 24 de abril de 1809, por provisão real, a elevação à condição de vila das freguesias de Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre. Uma data e um acontecimento memorável para a história do nosso estado. Em Cachoeira do Sul estamos vivendo também o ano em que se completam 240 anos da chegada dos índios guaranis no lugar chamado Aldeia, vindos do Botucaraí. Ali ergueram a Capela de São Nicolau. Uma simples placa na torre do sino da Capela de Nossa Senhora do Rosário, como é conhecida hoje, diz: “Berço de Cachoeira do Sul. Aqui foram aldeados os índios guaranis em 1769”.O lugar Aldeia, visitado e citado por Auguste de Saint–Hilaire no livro “Viagem ao Rio Grande do Sul”, nem sequer é nome de bairro. Ali, na boca do acesso que deve ter servido de caminho a estes índios, numa esquina, está a conhecida Casa da Aldeia, que neste ano completa 160 anos do registro em ata da Câmara de São João da Cachoeira e da autorização, em sessão extraordinária de 19 de maio de 1849, para a sua construção.Ora! Quem não sabe, não conhece, não ensina e não aprende isso, vai amar o quê?
*Telmo Padilha Cesar é Produtor culturalFonte: Portal Defender
Nenhum comentário:
Postar um comentário